SOBRE O CICLO

Por volta de 1968 aparece na cena brasileira, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas não se restringindo a estes lugares, uma geração de dramaturgos inaugurando uma tendência inovadora: José Vicente, Leilah Assumpção, Antônio Bivar, Consuelo de Castro e Isabel Câmara, os autores mais representativos.
Uma das características imediatamente visíveis nos textos é o viés autobiográfico, apresentado por meio da linguagem despojada das regras literárias articuladoras da dramaturgia que se fazia até então. O forte acento confessional singulariza a produção dos textos, tornando-os bem diversos da produção dramatúrgica posta em movimento pelos Seminários de Dramaturgia do Teatro de Arena de São Paulo iniciado em 1958, de forte acento político e social.
Antônio Bivar, Consuelo de Castro, Isabel Câmara, Leilah Assumpção, Isabel Câmara e Zé Vicente afastam-se dos temas e das formas trabalhadas pelos autores que produziram uma dramaturgia engajada, voltada para a discussão dos problemas sociais. Tomando outro rumo, os jovens autores optam pelo confessionalismo, instaurando o poético e o político por outro viés. Estão em cena, não mais os personagens como o favelado, o vaqueiro, o retirante, o operário, entre outros, mas aqueles oriundos da classe média urbana que perde o rumo diante dos acontecimentos nacionais e internacionais.
É sabido que a finalização da década de sessenta é plena de reviravoltas: questionam-se hábitos, costumes, posicionamentos políticos e estéticos. Em meio ao ambiente contracultural, o Brasil vive o auge repressivo do governo civil-militar. Assim, os personagens criados pelos novos autores espelham a situação daquele momento.
Ao longo do tempo, boa parte da dramaturgia deste Ciclo de Leituras Dramáticas da UFBA foi esquecida. Ainda que Zé Vicente receba a atenção dos encenadores no presente, Leilah Assumpção e Consuelo de Castro continuem produzindo para o palco, Antônio Bivar, um dos participantes mais transgressores do grupo, já não escreve para o teatro. Isabel Câmara completa o quadro que comporta também Carlos Alberto Soffredini, Mário Prata e o baiano Ariovaldo Matos.

Seis textos compõem o Ciclo de Leituras Dramáticas – Nova Dramaturgia Barra 69: O Assalto, de Zé Vicente (Direção Harildo Déda), Fala Baixo Senão Eu Grito, de Leilah Assumpção (Direção Ewald Hackler), O Desembestado de Ariovaldo Matos (Direção Sérgio Nunes Melo), As Moças, de Isabel Câmara, (Direção Elisa Mendes), À Flor da Pele, de Consuelo de Castro (Direção Eliene Benício), Cordélia Brasil, de Antônio Bivar (Direção Celso Nunes).
A escolha dos textos baseia-se na importância que tiveram quando levados ao palco e por conterem elementos que dialogam com o presente. Ao serem revelados, os autores receberam a atenção da crítica e do público, atraídos que foram pelas abordagens existenciais levadas à cena de maneira violenta, cruzando-se aspectos autobiográficos e os ficcionais, figuradores dos impasses de uma geração cerceada pela situação política brasileira. São textos cuja potência não diminuiu e são merecedores de novas leituras.

Raimundo Matos de Leão

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